29 abril 2011

Paradoxo da Liberdade

Viagem.
E que viagem...
Não no sentido de ir, mas de ir além.
Entre mortos e feridos salvaram-se todos;
E entre procurar e não achar e achar sem procurar,
Descobri que quanto mais eu queria e me preocupava,
Menos eu achava e talvez nem queria.
Na minha frente vi como que refletido em um espelho reverso a contradição.
Um senhor sentado num banco ao longe... longe
E eu ali, tão perto, mas também tão longe envolvida na sua lonjura
Ele de olhar tão perdido, que, mesmo se eu também me perdesse não o encontraria.
A liberdade infantil que aborrece a adolescente preocupada, atrasada, conferindo o relógio...
Conferindo o relógio, conferindo o relógio.
A porta abriu.
_Ufa!
Ela finalmente pôde ir, e foi!
...Conferindo o relógio...
Levou consigo sua pressa, sua vida.
Três sinais
A porta se fechou.
(suspiro)
Me senti só!
E deu-se como um estalo em minha cabeça.
Vazio.
Foi o que eu senti, V A Z I O, vazio... em letras garrafais.
Aquele senhor já se levantara com tremenda dificuldade e também se foi, desceu no paraíso... podia ser verdade.
A criança carregou sua mãe pela mão numa euforia de dar gosto.
No médico é que ela não estava indo.
O que será que aconteceu com a adolescente que conferia o relógio?
Tantas pessoas perdidas na confusão dos seus pensamentos, das suas vidas
E a MALDITA música que não para de tocar!

_"Alguém, dê um fone de ouvido pra esse bosta, por favor!"

Aos trancos e barrancos tentando me fazer surda consegui desligar meu mecanismo e voltei ao meu "infinito particular"
Agora é a minha vez.

_"Hora de descer!"

Três sinais
A porta se abriu e eu engoli seco...

_"E agora?"

Só saí e não consegui fazer mais nada, fiquei parada, estática, como se tivesse virado pedra.
Essa minha odisséia tinha ido longe demais.
Engano o meu...
Um homem se aproximou, claro.
Engravatado
Gordo
Com a testa suada e
Com uma lata de cerveja na mão, bebendo, bebendo, bebendo.
Até parecia que aquilo era a salvação da vida dele, c o m p u l s i v a m e n t e
Fazia muito calor e eu posso jurar que eu me ouvi pensando...
_Por favor eu não.
_Por favor, eu, não!
Pronto, agora o cara resolveu me cantar.
E me solta a frase célebre de quem não tem assunto... Com voz de dublador ruim.

_"Tá esperando alguém?"

Eu não sabia se ria, se chorava ou se emprestava uma toalha pra ele se enxugar.
Mas não podia me esquecer do que me levara até lá.
A minha odisséia!
Okay!
Resolvi me aproveitar da situação.
Eu precisava encontrar algo que me inspirasse, que me ajudasse a entender o que é liberdade, de onde vem, pra onde vai.
Eu não tinha nada a perder, o mal já estava feito, ele estava do meu lado e pelo que pareceu, dali não sairia tão cedo.
E de mais a mais um grito e tudo se resolveria.
É... pelo menos eu acho.
De súbito eu lhe disse.

_"Posso te fazer uma pergunta? Além dessa, claro!?"
_"O que é liberdade pra você?"

Ele estava mais preocupado em olhar para os meus peitos.
Ele percebeu quando o fitei e se desmontando na sua própria censura tentou pensar rápido, disse como que vomitando a palavra.

_"Deus"

Fiquei atônita.

_"Deus?"

Deus é sinônimo de liberdade?
Não sou religiosa, mas tudo que sempre ouvi partia do princípio contrário.
Acho que meu peitos atrapalharam seu raciocínio...
A frase "Não dê pérolas aos porcos." nunca veio tão bem a calhar!

_"Amigo, continuar olhando para os meus peitos não vai ajudar."

Pareceu que os meus peitos não saiam da cabeça dele.
Ele ficou rosa... como tinha que ser!
Com um único ato de cavalheirismo ele se virou e também foi.

Silêncio.
Mas só na minha cabeça.
Ainda estava atordoada com a nova informação.
Alguém achar que Deus é libertador e pensar:
_"O que os meus peitos tem a ver com isso?"
(Mais uma vez atônita, boca entre aberta sem conseguir respirar)
Nossa!
Eu ainda não sei em que pensar, poderia ficar horas filosofando, debatendo, descobrindo.
Mas será que alguém pode definir a liberdade?
Onde encontrá-la e como viver isso tão plenamente, se já ao nascer ganhamos uma amarra da vida.

_"O que é liberdade?"
_"Quem é verdadeiramente livre?"
_"O que é liberdade pra você?"

Agora faço todo o caminho inverso, quem sabe de trás pra frente eu não encontre algo que perdi ou que se perdeu de mim.