28 agosto 2014

Ele roubou meu caminhão.

O teto estava cada vez mais próximo, como quem vai sufocar.
Ela - eu, já tão viciada em tédio, nem se abalava.
Era rotineiro, costumeiro, insólito estar ali.

Ela - eu, vivia em um conto de Bukowski.
Entre um trago e outro trocava os lençóis.
Não restava mais álcool e ele a odiaria por isso.

Já não havia traço de luz.
Ela - eu era toda breu.

Como quem invade o quarto chutando a porta ele entrou.
Não veio sutil, não pediu permissão.
O garoto laranja se apossou de tudo a seu redor.

Ela - eu sorriu com dentes de pérola.
Amarelados.

Ele segurou seu - meu rosto.
Roubou o ar, sugou, beijou.
Línguas, lábios, saliva.

Eu hesitei, tentei fugir.
Não era hora de deixar ninguém entrar.

Mas o garoto laranja era mais esperto...
Disse que eu lhe dei todas as armas para lutar.
Então, ele roubou meu caminhão.

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