06 dezembro 2012

QUIMERA.

Ela, enfim, com o corpo exausto, se entregou.
Não foi o sono dos justos,
o sono dos fortes.
Foi o apocalipse, o fim dos tempos,
o fim da morte.

Pudera ela se entregar por inteiro.
Mas faltava metade, faltava-lhe a sorte.
Que se perdera, outrora...
quimera.

De pequenos pedaços, feito quebra-cabeça,
feito quebra-queixo, feito quebra-aço.
E faltava peça nesse entrelaço.

Pequenas fagulhas feitas de espaço.
Uma pausa, um contra tempo, um regaço.
Uma contra partida, um segundo, um abraço.

Com o corpo partido, em pedaço, no espaço,
o queixo de ferro e o peito de aço.
E no entrelaço, um regaço contido faltando um abraço.

Perdida no tempo, perdida na hora,
perdida na morte, entregue ao

cansaço!

29 novembro 2012

ACREDITE!

É inacreditável tudo o que acontece na minha mente...
Um lugar envelhecido, cheio de portas e trancas...
TODAS ABERTAS!

É quase um labirinto de Fauno.
É surreal e azul...
Um azul tão nostálgico, cheio de lembranças, de ruas e caminhos.
Por onde se pode deslizar e se esconder.
E escrever nas paredes e passarelas.

É um passeio infindável.

Lá cabem todas as coisas...
As reais e inexistentes.
Cabem todos os meus cheiros, minhas cores,
amores...
Cabe minha timidez, meu espírito.

Lá tudo cabe...
Cabem carros, moinhos e estantes...
Cabe até mesmo o Herbert Viana com seus óculos.
Tudo é feito de uma paisagem que liberta,

sufoca e faz rodar.
Roda tanto que me deixa boba, tonta, atônita.

Não é um modelo que se possa seguir.

Eu queria lavar com água e sabão, mas elas fazem bolhas e bolas e então, fico ainda mais encantada.

Tem uma placa banhada à ouro no corredor que dá acesso ao cofre.
Lá tem o mundo inteiro, que é o meu quintal...
Onde eu posso andar descalça na terra.
Dançar nua sem pudor.
Gritar bem alto e ser só eu!

... É inacreditável tudo o que acontece na minha mente...

28 novembro 2012

ALEATÓRIO.

Meu estômago se abotoa como o seu paletó.
Meu sorriso disfarça,
Feito palhaço sem graça,
Com o focinho na porta,
É de parar pra pensar.

Na sua farsa,
No seu paletó!

04 novembro 2012

DISSABOR




Ele está em um lago quase congelado.
Sua respiração requer força.
Os olhos já estão completamente negros.

Eu o vejo, assim, de fora.
Tento gritar mas o ar não sai.
Em mim só restam espaços vazios.

Ele está morrendo...
E me levando com ele...

Perco a força, o foco a fé.

Eu caio de joelhos na neve.
Não dói.

Não posso dizer que não sinto nada.
Era como se uma navalha me cortasse por dentro.
E como se tudo em mim houvesse sido sugado.

Só posso ficar ali, inerte, estática...
Enquanto minha parte mais bonita afunda no breu...
... E me leva com ela.



19 outubro 2012

LEIA-ME!

Eu li você repetidas vezes.
Até te decorar.
Mas quando olho nos seus olhos...
Vejo que nunca soube te interpretar.

Tentei de todas as formas.
Fiz rabiscos, fiz gravuras.
Juntei tudo e colori as bordas...
Mas lá você não me deixou ficar.

Me apagou como borracha nenhuma faria.
Preferiu o mundo em preto e branco.
Ou preferiu viver nas suas próprias cores...
Aquelas que eu não soube habitar. 

Hoje as mesmas páginas que eu acreditei conhecer tão bem...
Estão em branco.
Ou preenchidas por uma nova história que desconheço.
As anotações ainda estão em mim...
E disso eu não posso e nem quero me livrar.

10 outubro 2012

OLHAR.

Hoje o que me encanta é o olhar do observador.
Alguns podem dizer que ESSE vê a vida passar, enquanto assume o papel de espectador.
Eu digo que não!

Aprendo todos os segundos.
Enquanto olho, sinto e vejo a vida acontecer...

A cabeça abarrotada de milhões de pensamentos.
Todos escapando, mas represados como um lago.

Eu poderia ficar horas em silêncio só com eles...
O risco é não voltar a falar.

A conversa é interessante, mas meus monólogos são surpreendentes.
Sim, eu criei um monstro.
E hoje?
Ele tem vida própria!

24 setembro 2012

SÓ SONHO.

Hoje senti teu cheiro em meu travesseiro.
Tuas mãos firmes.
Tua respiração em minha nuca.
O calor da tua pele.

Senti que tu me olhava.

Senti em ti desejo.
Senti que eu sentiria.
Senti que foi só um sonho ruim não poder te sentir mais.

Daí eu acordei.

PAREDE.


Convencendo as paredes do quarto.
Tudo é terra, poeira e cansaço.
Tento convence-las de que são feitas de aço.
São feitas de pedra.
São feitas de laço.

Tento convence-las porque a mim já não cabe.
Não cabe entender.
Não cabe pensar.
Não cabe sentir.

Caberá a mim esperar.
Insistir.

O que caberá dentro de mim?

Tentativa errante e frustrada de convencer paredes.

A quem eu quero convencer?
A quem eu quero enganar?

Logo eu que só sei amar... 

Onde começa o branco?

Foram tantas noites não dormidas.
Tanta abstinência de poesia.
Que meu espirito se calou.

Agora a força da natureza transpira poesia.
Cada gotícula de suor se atrai como um imã
Criando nuvens que se fundem com minha pele.

Os pequenos insetos fazem festa,
Uma incansável e inconveniente festa.
Parecem bailar perdidas em volta da luz.
... E tem lá seu brilho.

Poderosas rajadas de vento
Se chocam com meus ouvidos sonolentos.
Se parecem com as ondas enquanto me afogo no mar.

Eu ainda tenho medo de chorar mágoas antigas...
As idéias novas precisam de espaço,
Mas me falta o fôlego.

Aqui eu vejo o mundo de cima.
As luzes da cidade antiga.
O oceano e todas as cores.
... Que aos poucos se diluem
E se tornam branco.

Mas onde começa o branco?

09 setembro 2012

À Deus...

Como dizer Adeus à melhor coisa da sua vida?
Passar a enxergar todas as cores em uma escala de cinza.
Ter tudo embaçado e lhe faltar o chão.
Lhe faltar o ar.
Lhe faltar...

Fechar os olhos e não dormir.
Sentir o sal nos lábios.
E o corpo tremer.

Como aceitar o Adeus de uma parte de você?
Mesmos que os caminhos sejam distintos
E a alma queira sufocar o amor.
E só ter na mente a rima pobre.

Sentir um desejo pulsante de que esse Adeus se torne um esperançoso e bonito Até Breve!
Se torne cor.
Se torne mar.
Se torne vida nova sem o peso de recomeçar.

Sendo assim, um pensamento sussurra em mim...
Como dizer Adeus?
Ah, Deus!

15 agosto 2012

As vezes me sobra alma de poeta, as vezes me falta poesia...


Até.

Hoje até o choro chora...

A fumaça dança ao som do vento.
E embora haja sol, ele escurece a visão...
E tudo turva.

O canto tímido do pássaro solitário.
Escondido por entre arbustos.
À procura.

Esse choro entalado na garganta.
E o estômago como uma máquina de lavar...
Mas passa.

Talvez seja a secura do tempo.
Das pessoas.
Do eu...

As reticências sempre tão presentes
Hoje afetam a escrita com precisão.

Precisaram, precisarão.
Da tristeza hoje tão disfarçadamente lânguida,
Como uma virgem repousando seus cabelos negros
Sobre as águas geladas de um lago.

Tão branca, tão negra...
Tão só.

29 junho 2012

VOLTA PRA MIM...

Eu faria qualquer coisa pra te ter de volta.
Sinto sua falta todos os dias.
Agora o tempo se fechou e eu sinto frio...
Sinto falta de como você me faz sorrir.
Sinto falta do corpo nú enquanto seu calor aquece minha pele.
E de como os músculos ficam relaxados depois que você me faz suar.
Sinto falta de como fico vermelha quando você está perto.
Volta pra mim.
Volta Verão!

30 abril 2012

Pessoa.


Eu
Pessoa lírica
Pessoa poesia
Pessoa pensamento
Pessoa sem razão.

Eu
Pessoa com muitos nomes
Pessoa inspiração.
Pessoa de cara limpa
Pessoa coração.

Eu
Pessoa sem sentido
Pessoa de mil cores
Pessoa de mil cheiros
Pessoa imaginação.

Eu
Pessoa pessoa
Fernando Pessoa...

Tem tanto eu dentro de mim
Que eu já não sei mas que pessoa eu sou.

27 abril 2012

Devaneios.

Eu não estou sonhando...

Acabei de beber o mar.
E me perdi no seu sorriso.
Perdi a hora e o fim da tarde, pousando ao longe.

Comi cada estrela.
E me perdi no seu olhar.
Perdi aquela que caía rápido demais.

E de perder assim constante
Me lembrei de me ganhar.
Me perdi em pensamentos...

E descobri que eu não sei sonhar.

Eu sonho sempre acordada,
Coisas que nem posso contar.
E se sonho em devaneios
Como é que posso sonhar?

09 janeiro 2012

Cinco Sentidos.

Pudera eu tocar a Aurora
e ver tudo mudar de cores...
Elas que sempre me acompanham.
Pudera eu tocar em uma bolha de sabão.
Assim, com o indicador...
E ter todas as partículas evaporando em brilho.
Aquele brilho antigo e antiquado
que faz com que as coisas tenham um sabor diferente.
E sentir o cheiro da chuva
caindo sob o corpo em uma tarde quente de verão.

Pudera eu ouvir uma sinfonia nova ao longe
e saber que ela foi feita para mim.
Daquelas que enchem os olhos d'água.
Que faz o coração acelerar.
E o corpo estremecer.

Só que de pudera a gente não vive.
E de viver de pudera a vida se esvai.
Não sobra nenhum sentido.
Nem cinco, nem um.

Mas de poder os sentidos voltam
A vida se reconstrói.

Sobram os cinco e mais "uns".

03 janeiro 2012

Sentimentos...

Hoje, só um sentimento esquisito...

Que não se nomeia.
Que não tem filiação.
Carente de adverbio.
Antagônico e invasivo.
Talvez tenha vindo como Shiva
Que destrói pra construir.
Que se renova diante da dor.
Com seus olhos abertos
Invadido de mar em fúria.

Esperando o sopro suave do próximo suspiro...